A fila no Posto de Combustível já
dobrava a esquina quando Valdir estacionou seu Monza 86 financiado, com os
pneus carecas, estofamento em petição de miséria e a lataria carcomida que um
dia foi branca, no momento está prata e até o fim do ano vai estar só o
Pó.
Alguém lá da frente
gritou: “-Pessoal? A gasolina acabou! Agora só temos Álcool!” O que já eliminou
metade dos mais de cento e cinquenta carros que em menos de quinze minutos se
aglomeraram por ali.
O
sol a pino, mais o sono do pós-almoço junto com a preguiça de ter que encarar o
resto da tarde na obra fez com que o Pedreiro não desce ouvidos aos reclames
cheios de discursos inflamados contra o governo vindo dos companheiros de fila.
Apesar
da lentidão, a fila andava, e ao se aproximar das bombas, Valdir, aos poucos,
foi se sentindo frustrado, diminuído, acuado. Afinal, era um tal de “completa o
tanque” daqui. Um “coloca cem reais” dali. Que o Pedreiro estava se sentindo
deslocado na companhia daquela ostentação toda a base de cartões de crédito.
Por muito pouco não desistiu da empreitada. Mas, resolveu seguir o conselho que
o pai havia lhe ensinado, ainda em seu leito de morte: “-Começou vá até o fim!”
Uma hora e cinco
minutos depois, finalmente Valdir chegou à bomba de combustível, feito esse que
por si só já era motivo de orgulho, afinal, havia vencido uma batalha árdua em
dias de greve de caminhoneiros.
-Quanto vai patrão?!
-Cinquenta
centavos de álcool, por favor!
O
frentista, num misto de espanto e sarcasmo, perguntou novamente.
-Desculpe querido, não
entendi direito. Quanto vai?
Valdir,
novamente, no mesmo tom de voz, repetiu.
-Cinquenta
centavos de álcool! – E entregou um copo de plástico para o frentista que, ressabiado
abasteceu-o, nem chegando a enchê-lo. Com cara de poucos amigos o frentista
entregou o copo para Valdir que, para espanto geral da nação ali presente, numa
golada só virou o copo de álcool na boca. Segundos depois, com os olhos em
chamas e o rosto rubro Valdir saracoteou a cabeça e ao entregar a moeda
perguntou ao frentista.
-Não tem um chorinho,
amigo?
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