Faltavam exatos cinco minutos para as onze horas da noite quando Evaldo sentou-se à mesa da cozinha. Ele havia acabado de sair do banho e seus cabelos ainda permaneciam levemente molhados, quando seus olhos visualizaram uma cesta recheada de frutas à sua frente. Maçãs, Laranjas, Bananas e Mexericas estavam desproporcionalmente distribuídas fazendo com que sua curiosidade alimentícia ficasse ainda mais aguçada.
Possuído por uma vontade estranha de tudo engolir, uma mistura de excitação estrangulada e uma gigantesca gula inconseqüente, Evaldo se viu tomado por uma força maior e atacou as frutas despudoradamente.
Doze Bananas, Oito Laranjas e Cinco Maçãs depois, o já fadigado glutão dava-se por satisfeito. Com um sorriso sarcástico no rosto admirava saciado sua obra e nem se deu ao luxo de perceber quando Sônia (sua detestável irmã mais nova), entrou na cozinha de supetão e ao encarar os restos mortais das frutas ao lado de Evaldo, não fez questão nenhuma de poupar-lhe de um cínico ataque a queima roupa. Desses, cuja delicadeza e compaixão, só os irmãos são capazes de proporcionar.
-Credo Evaldo, que é isso?
-Fome!
Com uma estranha mistura de riso e cinismo ela apontou as cascas aos montes espalhadas pela mesa e não economizou ofensas.
-Não acredito que você comeu todas essas frutas sozinhos, seu morto de fome!
-Todas não! As Mexericas estão intactas!
O ódio saltou aos olhos de Sônia.
-Eu trabalho o dia inteiro feito uma condenada e quando chego em casa morrendo de fome, na maior vontade de comer uma fruta só tem mexerica? Você é um puta de um egoísta Evaldo, de uns tempos pra cá está pensando e agindo como quem mora sozinho. Eu tô morrendo de fome está me ouvindo!
-Come Mexerica!
-Larga de ser descarado Evaldo, você sabe muito bem que eu detesto Mexerica!
-Azar o Seu!
Azar o seu foi a gota da água. Sônia já estava ficando roxa de raiva. Tentou de todas as maneiras se conter, mas a ignorância falou mais alto e ela resolveu descer das tamancas e fulminar o irmão, antes de sair em direção a sala.
-Pois saiba você que o Peixe morre pela boca!
E de Mexerica em punho, Evaldo foi ao seu encalço gritando.
-A Piranha também!