Como fazem desde que se
conheceram, dois meses atrás, Carol e Júlio, religiosamente tiram as tardes de
sábado para uma sessão de cinema.
Pacotes de pipoca big, master, jumbo acompanhados de dezoito litros de
refrigerante em mãos se acomodam na primeira fila para assistir um clássico do
cinema Árabe. Toribabá e os 40 Japões. O filme começa. O ator principal, uma mistura asiática de
Michael J. Fox com um Urso Panda está debaixo de um sol escaldante, suando a
cântaros, vestindo uma camiseta preta com estampa da Celine Dion sodomizando
Justin Bieber, ao lado de uma mulher em prantos, amarrada em um cactu gigante em
pleno deserto do Saara. A trilha sonora desaparece. Close no rosto do ator, que
está incomodado com algo. É visível sua aflição, ele não consegue manter a
concentração, seus olhos o entregam, as falas não fluem e ele solta um berro.
-Assim não tem condições, pra mim
chega – E senta na areia.
A atriz se desvencilha da
corda-fake e tenta ajudar o parceiro de cena: - Como assim chega, a gente nem
começou?
-Tem um corno terrorista sentado
na primeira fila que está me complicando à vida.
Carol e Júlio olham ao redor, se
entreolham e constatam. São os únicos na primeira fila.
-É você mesmo – O ator aponta
Júlio com o dedo.
Júlio balbucia: - Oi?
O ator emenda: - Tim, Claro,
Vivo!
A atriz senta, coça a cabeça e
murmura: - Minha nossa Toshiro, depois dessa você ainda espera trabalhar em Hollywood?
-A brancura desse cidadão me
tirou do sério! Nem Clint Eastwood conseguiria matar um comanche com um ponto
branco, total e radiante sentado na frente dele.
Carol cochicha no ouvido do
namorado: - Pior que ele tem razão, a primeira vez que meu pai te viu ele teve
medo, te confundiu com um Vampiro!
A atriz cresce na tela, se
agacha, movimenta a cabeça de um lado para o outro e concorda com o parceiro de
cena: - Verdade Toshiro, ele é tão branco que chega a ser um fenômeno luminoso!
Uma pessoa da platéia grita: -
Isso dá pauta pro Fantástico!
Outra espectadora retruca: - Se quiser
posso te indicar pro Drauzio Varella, sou amiga dele.
Júlio se apequena na poltrona e
tenta se esconder por de trás do pacote de pipoca: - Isso aqui é uma sessão de
cinema ou de terapia?
Os murmúrios da platéia se
avolumam a impaciência toma conta da sala e só tem fim quando Toshiro sai da
tela e se dirige a Caio.
-Não tem como se concentrar,
cara, sua brancura é demais, chegou a deflorar minha menina dos olhos!
-Desculpe, mas não posso fazer
nada, sou assim é não é de hoje!
Carol toma as dores do namorado e
tenta ajudar, não muito, óbvio: - É verdade seu Toshiro, desde pequeno que ele
é assim! Tanto é que o apelido dele na escola era leite coalhado!
Toshiro resolve radicalizar: -
Bom, sendo assim, infelizmente não haverá filme. Com esse ser humano iluminando
toda a sala e atrapalhando nossa concentração é impossível seguirmos adiante. Por
favor, peguem o dinheiro de volta na bilheteria.
Alguém grita do fundo do cinema:
- Se o problema for a luminosidade posso te emprestar meu óculos escuro!
A atriz responde, de dentro da
tela: - Se tive um pra mim também eu aceito!
O cidadão já se aproximando de
Toshiro responde: - Óbvio minha querida, tenho na verdade oito pares aqui –
Entrega para Toshiro – Acho que dá para o elenco principal inteiro se proteger
dessa ameaça lactosa.
-Mas quem é que anda com oito pares
de óculos escuros no bolso? Você por acaso é sócio da Chili Beans? – Toshiro pega os óculos e acalma a platéia –
Bom, sendo assim, vamos continuar o filme!
Ovacionado pela platéia o ator se
dirige de volta a seu lugar. Antes de voltar definitivamente para a tela, e
para o filme que o espera, o astro do cinema japonês é interceptado por Carol.
– Seu Toshiro, sei que acabamos de nos
conhecer, mas , como percebeu estou namorando um boneco de neve. Sei que o
senhor é um artista, tem sensibilidade e humildade suficiente para aceitar um
pedido de uma fã.
-Diga o que você quer? Uma foto,
um autógrafo, uma peça de roupa, uma noite de sexo selvagem comigo?
-Tem como o senhor levar meu
namorado pra dentro do filme para ele pegar um solzinho no deserto do Saara?
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