segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Ano Novo Paciência Velha

A previsão do tempo havia antecipado 35, os termômetros marcavam 38, mas a sensação dentro do carro de Everaldo era de mais de 40 graus. Descida da serra, longas curvas em seqüência, bebê recém nascido chorando, sogra tendo espasmos, filho mais velho e namorada putos sem internet e esposa falando mais alto que um barítono faziam com que o auxiliar de contabilidade a cada quilômetro repensasse se passar o Ano Novo na praia teria sido boa ideia.

-Pai, liga o ar! Está escorrendo suor pelos braços, vou manchar minha camisa nova!  -Disse o filho. Logo repreendido pela mãe: - Você sabe que seu irmãozinho tem rinite alérgica, não sabe Wellington? O moleque está cagando desde o começo da serra, você quer que ele comece a espirrar também?

-Não é por nada, Dona Maristela, mas pelo menos os vidros a senhora poderia deixar a gente abrir, né?Até no deserto do Saara está menos calor que aqui. Tentou defender o namorado, a futura, agora talvez, muito provavelmente, ex-nora.

-Impossível, Daiane, minha querida. Mamãe gastou no salão a primeira parcela todinha do décimo terceiro da aposentadoria nesse penteado, não podemos deixar que o vento faça com que ele nem ao menos na praia chegue intacto.

Everaldo não resistiu: - Cobra com cabelo. Riu: - Isso dá é pauta para o Globo Ciência!

Maristela resignada ia repreender Everaldo, mas o marido foi salvo pelo pequeno Kaique que começou a urrar feito um unicórnio nos braços da mãe. Sua chupeta havia caído no chão dando início a uma verdadeira caça ao tesouro dentro do carro, que definitivamente se transformaria na filial do inferno.

-Ajuda tua mãe Welligton, enfia a cabeça embaixo do banco vê se a chupeta do teu irmão está nos pés da tua Vó?

-Me recuso! A Vó está de chinelo, com meia de lã e pisoteando um pacote de Cebolitos. O cheiro lá embaixo está mais forte que o do curtume perto de casa.

Everaldo faz uma curva abrupta, a criança chora, a sogra gorfa e Martistela grita: -É pra isso que a gente cria filho? O vagabundo não presta nem pra procurar uma chupeta!

Everaldo, a essa altura com um pregador no nariz, fala baixinho de forma anasalada : - Estou sentindo uma quentura nas costas, tua mãe não vomitou no meu banco não, né Martistela?

A Sogra levanta, como troféu, um saquinho de mercado e reprimi o genro: - Tá tudo aqui ó! Eu lá sou mulher de vomitar no banco do carro dos outros!

- Pai, para esse carro que eu quero descer! Maristela solta outro berro: -Cala essa boca e procura a chupeta do teu irmão, Wellington!

O neném se esguela, os pneus do carro cantam mais que o Lulu Santos em mais uma curva e Maristela grita mais alto ainda: - O vontade de jogar esse moleque no meio do mato.

Welligton aproveita : - Faz isso mãe, pelo menos entra um ar pela janela!

Everaldo avista uma lanchonete, abre as janelas estaciona e grita:- Salvos pelo gongo!

A família ficou exatos 40 minutos no restaurante. Comeram, beberam e voltaram para a estrada mais relaxados. O ambiente mudara totalmente, parecia o céu. Everaldo acelerou e rodou mais de 200km em menos de uma hora. Todos quietos, tranquilos e o caos de antes da parada se transformou num oásis de paz, calma e felicidade até Maristela receber uma ligação
.
-Gente vocês não vão acreditar? É minha mãe. Esquecemos ela no restaurante!



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